As folhas dos
plátanos desprendem-se e lançam-se na aventura do espaço,
e os olhos de uma
pobre criatura
comovidos as
seguem.
São belas as
folhas dos plátanos
quando caem, nas
tardes de Novembro
contra o fundo de
um céu desgrenhado e sangrento.
Ondulam como os
braços da preguiça
no indolente
bocejo.
Sobem e descem,
baloiçam-se e repousam,
traçam erres e
esses, cicloides e volutas,
no espaço
escrevem com o pecíolo breve,
numa caligrafia
requintada,
o nome que se
pensa,
e seguem e
regressam,
dedilhando em
compassos sonolentos
a música outonal
do entardecer.
São belas as
folhas dos plátanos espalhadas no chão.
Eram lisas e
verdes no apogeu
da sua juventude
em clorofila,
mas agora, no
outono de si mesmas,
o velho
citoplasma, queimado e exausto pela luz do Sol,
deixou-se
trespassar por afiado ácidos.
A verde
clorofila, perdido o seu magnésio,
vestiu-se de
burel,
de um tom que não
é cor,
nem se sabe dizer
que nome tenha,
a não ser o seu
próprio,
folha seca de
plátano.
A secura do Sol
causticou-a de rugas,
um castanho mais
denso acentuou-lhe os nervos,
e esta real e pobre criatura
vendo o solo
coberto de folhas outonais
medita no malogro
das coisas que a rodeiam:
dá-lhes o tom a
ausência de magnésio;
os olhos, a
beleza.
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